20 agosto 2011


Do quintal de minha mãe, pra cozinha de minha casa

Depois de um tempo sem postar, quero registrar as delicias que ando fazendo com cará moela como é conhecido esse tipo de cará.
No quintal da casa dos meus pais, no interior de São Paulo, tem uma quantidade enorme. Da última vez que estive lá, minha mãe perguntou se eu não queria trazer, porque por lá ninguém curte esse sabor exótico do cará.
Eu nem sabia como fazer , mas não resisti a beleza estranha que eles tem e chegando em casa, fiz uma pesquisa e descobri muitas delicias no site da minha amiga Neide Rigo .
[www.come-se.blogspot.com]
Eu fiz cará com carne de porco e ficou delicioso.
Aproveitei, pra colocar na sopa nas noites muito frias.
Fiz salada e também fiz frito,como se fossem batatas fritas. Ficou tudo muito gostoso.







Tudo sobre o Cará



Como canta nosso Tom Zé, “tô te confundindo, pra te esclarecer”. Já falei aqui sobre a confusão de nomes de carás e inhames que afetou até meu autor preferido Câmara Cascudo. Mas acho que agora finalmente a padronização é para valer. Pelo menos todos os artigos científicos que tenho lido sobre isto já registram o nome Taro para o Colocássia esculenta, o ex-inhame, aquele redondo, marrom com toques arroxeados, de folhas como as da taioba, de polpa cremosa e lisa, e Inhame para o Dioscorea spp (D. alata, D. bulbifera, D. cayenensis, D. dodecaneura, D. dumetorum e D. rotundata), aquele que em São Paulo conhecemos como cará - grande, marrom, com polpa branca ou roxa, úmida, viscosa e algo granulosa e outras espécies como este da foto. A padronização da nomenclatura foi decidida na Assembléia Geral do I Simpósio Nacional sobre as Culturas do Inhame e do Cará, realizado em Venda Nova do Imigrante, em abril de.2001, atendendo ao que prevê o Código Internacional de Nomenclatura Botânica. De modo que agora cientistas, órgãos do governo e quem quer dar nome certo às coisas, devem atender à determinação. Vejam aí:


“Assim sendo, ficou estabelecido que os órgãos governamentais, universidades, empresas de pesquisas e de extensão rural, Sociedade de Olericultura do Brasil e demais entidades ligadas ao setor agrícola, oficializem e divulguem, no âmbito técnico-científico nacional, a nova nomenclatura, onde "inhame" (Colocasia esculenta) passa a ter a denominação definitiva de "taro" e as Dioscoreáceas (Dioscorea spp.), chamadas popularmente no norte/nordeste brasileiro de "carás" e "inhames", passam a ter a denominação definitiva de "inhame". As espécies de "carás" cultivadas, serão consideradas como variedades de inhame”.


Marney Cereda e outros. Uso de nomes populares para as espécies de Araceae e Dioscoreaceae no Brasil. Hortic. Bras. vol.20, no.4, Brasília, Dec.2002.
Artigo completo aqui.

Outras informações:


Talvez agora isto gere mais confusão ainda, mas daqui a algum tempo não vamos mais ler textos traduzidos do inglês que falam dos super poderes do inhame quando na verdade estavam se referindo ao cará, yam. De agora em diante o cará vira oficialmente inhame, como sempre deveria ter sido e todo mundo entenderá que inhame ou yam é do gêneroDioscorea e não Colocasia. Claro, que deve ser sempre acompanhado do nome científico. E quando alguém disser para comer inhame porque é bom pra menopausa, estará mesmo falando do inhame Dioscorea.

Falar em menopausa, um detalhe sobre a pílula: algumas espécies silvestres de cará (agora inhame) contêm substâncias tóxicas, mas essas mesmas substâncias tornaram-se úteis ao homem quando, por volta de 1940, descobriram-se que as saponinas esteróides destes bulbos podiam ser usadas na fabricação da cortisona e de hormônios sexuais. Em 1956 o uso farmacológico da Dioscorea ganhou mais notoriedade quando foi anunciado que o esteróide diosgenina tinha a capacidade de impedir a concepção. Até aquele momento os esteróides preventivos da concepção tinham que ser tomados por injeção. Com a nova descoberta passou a ser possível a administração oral. Nasceu, assim, a pílula - que hoje é quase que inteiramente sintética. Recentemente novas pesquisas vêm testando os componentes estrogênicos do cará (agora inhame) na terapia de reposição hormonal, mas não há evidências de que se possam obter os mesmos efeitos comendo o cará, pois esses compostos são extraídos dos carás silvestres e mesmo assim teriam que ser comidos às toneladas.

Se não há comprovação de que comer cará possa substituir os hormônios sintéticos, ao menos sabe-se que é bom comê-lo porque é saboroso e nutritivo. É ainda um ingrediente versátil na cozinha além de se conservar fresco por vários dias. Ele pode ter os mesmos empregos que a batatas - rocamboles salgados, sopas, pães, purês, suflês e pratos doces como pudins e bolos.

Agora já não sei mais como chamar nosso cará-do-ar (Dioscorea bulbifera). Será inhame-do-ar, inhame-moela? Bem, seu caráter sei que não muda. Ele produz bulbos aeréos arredondados ou em forma de fígado ou moela. O aspecto lembra algo assim. Na África, essa espécie pode alcançar até 2 kg. Diferente do outro, o Dioscorea alata, mais comum, que dá o tubérculo embaixo da terra e é a espécie mais difundida no Brasil, o cará-do-ar tem textura menos granulosa e um ligeiro amargo característico muito bom. De resto, é mais cremoso depois de cozido, menos viscoso e a polpa pode ser esverdeada ou arroxeada. Ah, e pode ser plantado em qualquer pedacinho de terra desde que lhe dê uma cerca pra trepar.

Hoje o Brasil é produtor e consumidor principalmente de batatas e mandiocas (esta, mais na forma dos subprodutos). Mas carás e inhames ou inhames e taros já tiveram sua importância na culinária regional e sei que no Vale do Paraíba e do Ribeira ele é usado em pratos com carne de porco e outros à moda das batatas.


(informações tiradas do blog de Neide Rigo)
www.come-se.blogspot.com