Chapeleiro Maluco
Chapéus feitos pelo artesão são vendidos para garantir renda e ele viaja por todo Brasil.
Matéria retirada do G1 de 14/02 /2014.
Artesão diz que o país é repleto de belezas, mas problemas sociais assustam.
Ele não é um maluco qualquer. É chapeleiro por opção e amor pelo que faz. Durval Sampaio, ou apenas Du, de 32 anos, viaja há mais de um ano pelo Brasil dentro de um furgão verde, ano 1952, e se declara um apaixonado pelo país. Natural de São Paulo, ele chegou ao Tocantins há cerca de quatro dias, vindo do sul do Maranhão, e se instalou no distrito de Taquaruçu, a 40 km dePalmas.
Du conta que não se considera um chapeleiro maluco, mas que acabou recebendo esse apelido das pessoas que conhece por onde passa. "Não me inspirei em ninguém, tenho a própria vida como inspiração para o que faço", explica. Ele diz que o plano é viajar durante três anos e conhecer cada canto do nosso país.
O chapeleiro é um amante de música, de todos os tipos, mas revela um apreço especial pelas músicas de Tom Zé, que é considerado até hoje como um músico de vanguarda. "Gosto de tanta coisa que nem sei dizer. Só que Tom Zé é o nome que me vêm a mente agora. Acho bem bacana as composições dele", observa.
Para viajar durante o período planejado, Du explica que guardou umas economias, mas que vive da venda dos chapéus que fabrica dentro do furgão, usando uma máquina de costura e a criatividade. Os chapéus vendidos por ele custam em média R$ 98. É com a venda desses acessórios que ele se mantêm. "Conheço tanta gente e acho maravilhoso. Algumas me oferecem um lugar para ficar e consigo fazer os chapéus lá, com mais tranquilidade", conta.
O artesão diz que passou por tantas cidades que já perdeu as contas. A maioria ele conseguiu registrar no furgão. "O Brasil é um país tão rico e bonito. Só que tem o lado feio também. Eu já vi crianças trabalhando como se fossem adultos. Os corpos delas nem chegam a se desenvolver direito por causa do trabalho. Tem também muita prostituição infantil que é muito triste porque todo mundo vê aquilo, mas ninguém faz nada", critica.
Outro problema apontado pelo chapeleiro é o consumo de crack que, segundo ele, está se tornando um dos maiores problemas enfrentados pelo país. "Em todas as cidades por onde passei existe esse problema. Claro que é fácil se encantar com a beleza peculiar desses locais e, no entanto, é difícil não olhar para isso", completou.
Du conta que vive no furgão e que passou apuros com furtos. Uma vez, ele explica, em uma visita a São Luís (MA) arrombaram o veículo e levaram todo o material que tinha dentro. "Foi complicado. Consegui recuperar algumas coisas, mas a maioria foi levada."
Sobre os planos para o futuro Du fala que não tem nada programado. "Por isso tento não me apaixonar por ninguém. Não sei o que será depois dessa viagem. Conheci mulheres interessantes e até me relacionei com algumas e é complicado porque uma hora eu tenho que colocar o pé na estrada."
A saudade da família e a solidão da estrada não impedem o artesão de seguir o objetivo dele. "Converso com minha mãe sempre. Estou indo para Goiânia buscar minha irmã. Depois disso continuo no meu caminho, sem fazer muitos planos, apenas seguindo em frente", finalizou.