25 abril 2006


Arte urbana.

Amo arte, de um modo geral, até porque acredito que nela consiste,o prazer e o ato de criar.
Não consigo gostar de paredes totalmente rabiscadas,que me parecem sujas, desleixadas.
Porém, consigo enxergar que o ato de intervir num meio qualquer, como acrescentar cores a um poste que tem como origem o cinza, aí sim, posso entender como arte urbana.
(Rosi Ribeiro)
-foto do blog Armaguedes-
Pensamentos.


Acordei hoje, com um olhar diferenciado para o mundo(em que vivo).
Tenho pensado em como tudo caminha meio que lentamente, em relação às ações, no entanto, há um corre-corre do tempo, em relação ao que queremos como soluções.
Quase que consigo, tão sómente ver o todo, hoje, em preto e branco, sem olhar para um pouco de cor, ao menos.
Talvez seja porque tenho percebido que corro tanto para que aconteçam de fato as ações propostas, e de repente, sei lá porque, as ações se perdem!
É, hoje, eu amanheci um pouco angustiada.
Agora, já finalizando o dia, literalmente, percebo que não se faz necessário que as ações sejam imediatistas, sobretudo, é necessário que consigamos sonhar e que as cores continuem a existir, mesmo que ao nosso olhar elas estejam em preto e branco.
Tem dia que é realmente luz, porém há sempre de existir, um outro que seja sombrio,assim se faz a ordem natural.
Há a necessidade de sermos nós mesmos,sempre em busca de ações,concretizadas ou sonhadas.
Me preparo para o leito e posso dizer que amanhã,talvez, eu seja mais luz.
(por Rosi Ribeiro).
No mês de Junho, precisamente no dia 12, o Centro de Apoio, através das crianças do Peti(programa de erradicação do trabalho infantil),farão parte de um espetáculo "Eis que morro Drumond do morro", no teatro municipal de Osasco.
Estamos, todos, estudando Carlos Drumond de Andrade e o espetáculo que envolverá coreografias, poesias,música, acontecerá às 18:00,com um debate no final,sobre responsabilidade social.

José


E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

Essa poesia faz parte do roteito do espetáculo.


Carlos Drummond de Andrade (1942)
IN Poesia Completa, Rio, Nova Aguilar, 2002, p. 106.