04 maio 2007

E esse é o Marcelino Freire, o escritor que Maria Olivia citou na Roda Viva do dia 30 de abril,com sua história.
Alguns membros do Centro de Apoio, estarão estudando sua vida, suas obras,dentro de um contexto literário árido, vivo,real.

Eu nasci no ano de 1967 em uma cidade chamada Sertânia, alto sertão de Pernambuco. Vivo em São Paulo, vindo do Recife, desde 1991. Escrevi, entre outros, "Angu de Sangue" (Contos, 2000), "eraOdito" (Aforismos, 1998 - 2002) e "BaléRalé" (Contos, 2003), todos publicados pela Ateliê Editorial, São Paulo. Sou também editor, tendo idealizado e lançado, em 2002, a "Coleção 5 Minutinhos" (eraOdito editOra), com livros inéditos, distribuídos gratuitamente, de nomes como Moacyr Scliar, Glauco Mattoso, Valêncio Xavier e Manoel de Barros. Em 2003, lancei a segunda versão da Coleção, desta vez destinada às crianças e reunindo autores como Luis Fernando Verissimo, Ignácio de Loyola Brandão, Haroldo de Campos e Tatiana Belinky. Em 2005, será lançada a versão erótica da Coleção. Sou um dos editores da revista de prosa "PS:SP", lançada, em número único, no ano de 2003. Participei das antologias "Geração 90 - Manuscritos de Computador" (2001) e "Os Transgressores" (2003), organizadas por Nelson de Oliveira para a Boitempo Editorial e que reúnem "Os melhores contistas brasileiros surgidos na última década do século XX". Participei também de algumas importantes antologias no Brasil e no Exterior, como a "Ficções Fraternas" (editora Record, 2003), a "Dentro de um Livro" (Casa da Palavra, 2005) e a "Putas", lançada em Portugal (Quasi Edições, 2002). Alguns de meus contos foram adaptados com sucesso para teatro no Recife, São Paulo e Rio de Janeiro, e interpretados, em especiais na TV, por atores como Beatriz Segall e Walmor Chagas. Alguns, idem, foram publicados em revistas e jornais no México, França, Estados Unidos e Itália. Em 2004, idealizei e organizei a antologia "Os Cem Menores Contos Brasileiros do Século" (Ateliê Editorial e eraOdito editOra), reunindo 100 autores, como Dalton Trevisan, Millôr Fernandes, Marçal Aquino, Raimundo Carrero, João Gilberto Noll, em microcontos inéditos de até 50 letras. Ainda em 2004, idealizei e organizei para a editora paulistana Alaúde a "Série Paralelepípedos", em que autores de cada uma das 27 capitais brasileiras apresentam, para o público infantil e adolescente, a cidade em que nasceram ou onde vivem. Representei o Brasil no III Encontro de Novos Narradores da América Latina e da Espanha, realizado no final de 2003 em Bogotá, Colômbia. Também em 2005 participei da Feira Internacional do Livro, acontecida no Paraguai. Fui um dos destaques da Jornada Literária de Passo Fundo, RS, edição de 2003. E um dos escritores convidados para a segunda edição da Festa Literária Internacional de Paraty, a FLIP, que aconteceu em julho de 2004, sendo apontado, pela imprensa em geral, como uma das "revelações" da Festa. Em julho de 2005, lancei o "Contos Negreiros", meu primeiro livro pela editora Record. Atualmente, escrevo o meu primeiro romance, intitulado "Gonza-H", a ser publicado pela editora Record no final do próximo ano. E também organizo, ao lado do escritor Santiago Nazarian, a antologia de contos gays, em dois volumes, intitulada "Contos para Ler Fora do Armário". Preparo, ainda, o lançamento do programa literário de TV, o "SÁideira", idealizado por mim, com apresentação do escritor e jornalista Xico Sá e realização da Tereré Cinema.

Foto acima: gentilmente clicada e cedida pelo amigo J. R. Duran.

Dia 30 de Abril, Maria Olivia Araujo ( a Quitéria,do Filme As Domésticas), esteve no Centro de Apoio ,participando de uma Roda Viva. Foi muito bom. A galera participou e foi falado sobre Marcelino Freire,e aqui, mostramos um de seus textos.
Apreciem!!!


Muribeca

Lixo? Lixo serve pra tudo. A gente encontra a mobília da casa, cadeira pra pôr uns pregos e ajeitar, sentar. Lixo pra poder ter sofá, costurado, cama, colchão. Até televisão.
É a vida da gente o lixão. E por que é que agora querem tirar ele da gente? O que é que eu vou dizer pras crianças? Que não tem mais brinquedo? Que acabou o calçado? Que não tem mais história, livro, desenho?
E o meu marido, o que vai fazer? Nada? Como ele vai viver sem as garrafas, sem as latas, sem as caixas? Vai perambular pela rua, roubar pra comer?
E o que eu vou cozinhar agora? Onde vou procurar tomate, alho, cebola? Com que dinheiro vou fazer sopa, vou fazer caldo, vou inventar farofa?
Fale, fale. Explique o que é que a gente vai fazer da vida? O que a gente vai fazer da vida? Não pense que é fácil. Nem remédio pra dor de cabeça eu tenho. Como vou me curar quando me der uma dor no estômago, uma coceira, uma caganeira? Vá, me fale, me diga, me aconselhe. Onde vou encontrar tanto remédio bom? E esparadrapo e band-aid e seringa?
O povo do governo devia pensar três vezes antes de fazer isso com chefe de família. Vai ver que eles tão de olho nessa merda aqui. Nesse terreno. Vai ver que eles perderam alguma coisa. É. Se perderam, a gente acha. A gente cata. A gente encontra. Até bilhete de loteria, lembro, teve gente que achou. Vai ver que é isso, coisa da Caixa Econômica. Vai ver que é isso, descobriram que lixo dá lucro, que pode dar sorte, que é luxo, que lixo tem valor.
Por exemplo, onde a gente vai morar, é? Onde a gente vai morar? Aqueles barracos, tudo ali em volta do lixão, quem é que vai levantar? Você, o governador? Não. Esse negócio de prometer casa que a gente não pode pagar é balela, é conversa pra boi morto. Eles jogam a gente é num esgoto. Pr'onde vão os coitados desses urubus? A cachorra, o cachorro?
Isso tudo aqui é uma festa. Os meninos, as meninas naquele alvoroço, pulando em cima de arroz, feijão. Ajudando a escolher. A gente já conhece o que é bom de longe, só pela cara do caminhão. Tem uns que vêm direto de supermercado, açougue. Que dia na vida a gente vai conseguir carne tão barato? Bisteca, filé, chã-de-dentro - o moço tá servido? A moça?
Os motoristas já conhecem a gente. Têm uns que até guardam com eles a melhor parte. É coisa muito boa, desperdiçada. Tanto povo que compra o que não gasta - roupa nova, véu, grinalda. Minha filha já vestiu um vestido de noiva, até a aliança a gente encontrou aqui, num corpo. É. Vem parar muito bicho morto. Muito homem, muito criminoso. A gente já tá acostumado. Até o camburão da polícia deixa seu lixo aqui, depositado. Balas, revólver 38. A gente não tem medo, moço. A gente é só ficar calado.
Agora, o que deu na cabeça desse povo? A gente nunca deu trabalho. A gente não quer nada deles que não esteja aqui jogado, rasgado, atirado. A gente não quer outra coisa senão esse lixão pra viver. Esse lixão para morrer, ser enterrado. Pra criar os nossos filhos, ensinar o nosso ofício, dar de comer. Pra continuar na graça de Nosso Senhor Jesus Cristo. Não faltar brinquedo, comida, trabalho.
Não, eles nunca vão tirar a gente deste lixão. Tenho fé em Deus, com a ajuda de Deus eles nunca vão tirar a gente deste lixo.
Eles dissem que sim, que vão. Mas não acredito. Eles nunca vão conseguir tirar a gente deste paraíso.

"Muribeca" é um dos contos do livro "Angu de Sangue", publicado pela Ateliê Editorial no ano 2000.

Colméia das Artes, em parceria com o Caca.

Nessa sexta feira, 03 de maio,o professor Leonir Guimarães, da Escola Colméia das Artes,esteve no Centro de Apoio à Criança e Adolescente(CACA), para demonstração das atividades que darão inicio ainda nesse mês,na unidade.
Violão e Inglês, ficou decidido e as turmas já foram montadas.