Pendurando as palavras
num varal criativo
Essa semana entrei numa livraria e logo me deparei com uma criança chorando . Como estava com pressa, não dei muita importância e tentei me concentrar na busca por alguns livros que tinha em mente. Anda daqui, olha acolá, e o choro ainda se fazia presente.
Essa semana entrei numa livraria e logo me deparei com uma criança chorando . Como estava com pressa, não dei muita importância e tentei me concentrar na busca por alguns livros que tinha em mente. Anda daqui, olha acolá, e o choro ainda se fazia presente.
Não demorou muito e como o choro continuava, repousei o livro
que estava em minhas mãos, sobre o balcão lotado de bons livros e me virei
para que meus olhos pudessem encontrar a cena
do menino que tanto chorava.
O vi, tão pequenino, de bermuda jeans e
sandálias creme e azul. Cabelo encaracolado e estava seguro pelas mãos firmes
de sua mãe, jovem, de chapéu e também de bermuda jeans. Seus cabelos dourados se misturavam ao belo
sorriso ao presenciar o filho chorando por querer ler um livro. E como chorava!
Pedia insistentemente por um livro. Ele , ainda tão criança, estava decidido
ler um livro e ponto final.
Não acreditei no que vi e fui logo perguntando sua idade.
Então soltei uma gargalhada ao saber que
era tão somente dois anos e três meses. Me encostei no balcão e admirei a cena mais
bela que já tinha visto.
Ele escolheu o livro ,
na verdade, dois livros, com desenhos que ele lia com perfeição e repleto de
entusiasmo.
Me lembrei do Manoel de Barros,
que escreveu sobre o menino que carregava água na peneira. A mãe do menino, falava sempre que carregar
água na peneira era o mesmo que roubar o vento e sair correndo para ofertar aos
irmãos. Que era o mesmo que catar espinhos na água ou criar peixes nos
bolsos. E assim, o menino sabia que tinha que escrever e que escrever era o
mesmo que carregar água na peneira. Escrevendo ele soube usar as palavras. Ele
brincava com elas. Fazia peraltagens mil com elas. E brincando com as palavras
, esse menino conseguiu fazer até pedra
dar flores.
Viajei por uns
instantes nesse encantamento todo de
Manoel de Barros e me voltei ao menino
da livraria, que nesse momento, já não
chorava mais . Estava ocupado com a leitura do seu jeito único de ser. Ele segurava
dois mini livros , com toda doçura e inquietude de menino que sabia
muito bem o que queria.
Ganhei o dia. Saí da
livraria com a certeza de que devemos sonhar. Devemos acertar o passo no compasso acertado todos os
dias. Rasgarmos a alma no tudo que há de mais sublime e arriscarmos sempre para
no final, acertarmos de maneira gloriosa. Saber brincar com as palavras deve
ser missão honrosa dos que não tem medo algum de palpitar idéias mil , na
plenitude da imaginação sem fim.
De agora em diante o
que vale é pendurar todos os nossos sonhos num
varal cheio de encantos e poesia.
Bora lá pra mais um
passo acertado, pois afinal, estamos aqui de passagem e que essa passagem seja por caminhos de arte e poesia.
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